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Produtores de gás
Os gases de origem renovável desempenham um papel fundamental na transição energética da economia nacional, potenciados por políticas públicas que promovem a promoção de recursos endógenos e contribuem para reduzir a dependência energética, capitalizando os ativos de transporte e distribuição de energia enquanto mecanismos essenciais para veicular fontes renováveis para os consumidores finais, domésticos e industriais.
No plano da descarbonização das infraestruturas, as metas definidas pelo Governo português no Plano Nacional do Hidrogénio (Resolução do Conselho de Ministros n.º 63/2020) implicam a transição gradual do gás veiculado nas infraestruturas, até 2040-2050, de gás natural de origem fóssil para gás de origem renovável, em particular de hidrogénio verde (75% - 80%), sendo que o remanescente deverá ser assegurado por biometano ou metano sintético.
A execução destas metas levanta alguns desafios aos operadores das infraestruturas: esta transição implica revisão do planeamento e operação das infraestruturas para acomodar e gerir a injeção paulatina de hidrogénio e respetiva mistura de gases ao longo dos próximos anos, implicando investimentos como os preconizados no plano de descarbonização e digitalização de ativos. O biometano e o metano sintético, sendo gases intermutáveis com o gás natural, não apresentam questões complexas à sua veiculação nas infraestruturas.
Neste contexto, a progressão natural do planeamento das infraestruturas implicará a preparação das mesmas para a injeção multiponto de hidrogénio em regime de blending até 20%, em paralelo com o desenvolvimento de regiões (vales) 100% a hidrogénio que proliferarão em função da evolução do consumo de hidrogénio puro e da coordenação do planeamento do processo de conversão de infraestruturas e clientes.
O ritmo de desenvolvimento incremental dos regimes de blending de hidrogénio e restantes gases de origem renovável está intrinsecamente ligado ao potencial de produção das fontes renováveis de energia (Roteiro e Plano de Ação para o Hidrogénio em Portugal, DGEG, 2019). A produção de hidrogénio verde terá uma correlação fortíssima com o surgimento de projetos de eletrólise, essencialmente centralizada, mas também dispersa, para produção exclusiva de hidrogénio verde com base em projetos de energia solar ou eólica, ou mesmo de excedentes de produção de energia elétrica não despachável.
Nos casos do biometano e gás sintético, a produção ocorrerá essencialmente em locais de gestão de resíduos, urbanos ou industriais, na indústria agropecuária, em clusters municipais ou metropolitanos, sendo essencial a definição de uma estratégia nacional para a produção destes recursos endógenos, nomeadamente em coordenação com os operadores das infraestruturas, situação que comparativamente com o hidrogénio ainda não se encontra definida.
O potencial de contribuição das infraestruturas de transporte e distribuição no seio da transição energética deve ser equacionado:
como incremento da segurança de abastecimento, ao reduzir a dependência externa do contexto geopolítico;
como um fator potenciador de controlo de custos de energia, ao reduzir a exposição nacional aos mercados internacionais pela produção interna deste recurso e consequente armazenamento e distribuição pelos consumidores.
O potencial nacional de produção de hidrogénio com base em fontes renováveis de energia é dos mais expressivos a nível global. No relatório “The Future of Hydrogen” da International Energy Agency (IEA), Portugal surge, a nível europeu, como um dos países com maior potencial de produção de energia de origem renovável para produção de hidrogénio de custo reduzido, nomeadamente a partir de eólico onshore e solar fotovoltaico.
Neste contexto, as infraestruturas de gás desempenham um papel fundamental na transição, quer pela descarbonização do consumo de energia a partir das redes de distribuição, quer pela promoção de acesso às redes aos promotores que capitalizam os mecanismos de financiamento à produção descentralizada (POSEUR 2020, Horizonte Europa e PRR). Note-se que o Sistema Nacional de Gás, através da acomodação de percentagens até 20% de H2 verde nas redes, representa um buffer de grande dimensão para a sua receção, potenciando a gestão da natureza volátil deste tipo de produção e contribuindo para um quick start do desenvolvimento de um mercado de hidrogénio verde à escala nacional.
No estudo citado, a IEA apresenta recomendações ao nível governamental, nomeadamente para a promoção deste vetor energético enquanto potencial endógeno e de elevado potencial energético, capitalizando as infraestruturas de distribuição como veículo eficaz de transporte desta forma de energia, bem como a promoção de quadros de apoio ao investimento em Investigação, Desenvolvimento e Inovação para que os agentes de mercado possam desenvolver as tecnologias e as respetivas infraestruturas, para adaptação paulatina a concentrações de maior expressão com vista à sua compatibilidade integral.
Note-se que os mecanismos de incentivo criados pelo Estado Português até ao passado recente, iniciados no POSEUR 2020, prosseguidos com o PRR e enquadrados com leilões para gases de origem renovável e eventualmente novos quadros de apoio nacional ou comunitário, promovem uma aceleração do processo de descarbonização das infraestruturas de gás.
Portugal tem condições endógenas de grande potencial na vertente do biometano. Para se aproximar dos parceiros europeus, Portugal deve aprofundar estas condições, absorvendo as vantagens dos casos de sucesso dos seus congéneres e evitando os erros dos “first movers”. Assim, deverá desenvolver-se um modelo de negócio que seja sustentável numa perspetiva transversal da cadeia de valor.
Os produtores de biometano devem valorizar, para além da componente energética (molécula de CH4), outras componentes de valor acrescentado:
os fertilizantes ou o CO2 que pode ser utilizado noutras indústrias ou servir como instrumento logístico para armazenar hidrogénio sob a forma de gás natural sintético em unidades Power-to-Gas;
a valorização das suas externalidades positivas na resolução de potenciais questões ambientais (eliminação de resíduos);
a promoção de uma economia circular.
Estudo da Portgás
A Portgás desenvolveu um estudo interno que propõe um modelo de negócio para a injeção do biometano em Portugal. O objetivo primário deste estudo foi a obtenção de informações de tomada de decisão para a adoção de modelos de negócio de biometano aplicáveis à rede portuguesa de gás, com base em políticas públicas, em toda a UE, com dados nacionais portugueses.
O potencial de biometano em Portugal foi estimado espacialmente a nível municipal para cinco tipos diferentes de resíduos: bovinos, suínos, aves, ovinos e resíduos urbanos. Estimou-se que o potencial de biometano para Portugal seja de 410,86 Mm3/ano, como observado no quadro 4. Os resíduos urbanos correspondem à maior parcela, com o valor de 322,37 Mm3/ano.
Na figura 3 é possível observar o potencial de biometano por município: os valores mais altos de BMP (biomethane potential) correspondem às regiões metropolitanas de Lisboa e Porto. Tal resultado é o expectável, pois são áreas que apresentam maior concentração de resíduos urbanos, categoria essa de substrato que contém maior potencial de biometano.
Verificou-se que, do potencial total de Portugal, 24,1% correspondem aos 29 municípios da área de concessão da Portgás (quadro 5). Este potencial representa um volume global de cerca de 1,1 TWh/ano de biometano, que corresponde a sensivelmente 15% do volume anual de gás veiculado pela Portgás.
No âmbito deste estudo foi desenvolvida e utilizada uma ferramenta de apoio à decisão, “Green Gas Planner”, para otimizar modelos de negócio de biometano em termos de Valor Atual Líquido (Net Present Value – NPV), aplicada aos 29 municípios da concessão da Portgás. Esta ferramenta demonstrou a necessidade de fazer evoluir as políticas em vigor, no sentido de garantir valor que permita atrair investimentos a este segmento da energia, para que se possam desenvolver centrais com NPV positivo, contribuindo desta forma para:
a descarbonização da economia Portuguesa;
a descarbonização das infraestruturas de gás;
o incremento da resiliência do setor energético, visto de forma global.
Analisando os países que lideram o negócio do biometano na UE, verificou-se que todos têm sistemas de apoio direto que promovem a adoção deste vetor energético ou políticas exigentes de carbono que tornam os custos do biometano competitivos com o gás natural.
Por outro lado, outros países estão atentos à crescente relevância deste potencial. Em Espanha, por exemplo, um estudo da Sedigas referencia de forma clara o potencial do país vizinho:
“Con una producción potencial máxima de 163 teravatios hora anuales (TWh/año), este gas renovable autóctono podría cubrir el 45% de la demanda nacional de gas natural (utilizando las mismas infraestructuras), equivalente a un 100% del consumo doméstico y un 48% del consumo industrial en España. Es uno de los principales resultados del informe 'Estudio de la capacidad de producción de biometano en España' presentado esta mañana por la Asociación Española del Gas, Sedigas.” (energias-renovables.com)
Neste contexto, considera-se fundamental a análise integrada deste potencial no âmbito de uma Estratégia Nacional para o Biometano, no sentido de reduzir as emissões de GEE, capitalizando recursos endógenos para a contribuição das metas nacionais de gases de origem renovável.
É importante referir que o Estado português tem previsto, no curto prazo, alavancar de forma definitiva este vetor energético, com a publicação da estratégia nacional para o biometano que será acompanhada dos instrumentos financeiros e regulamentares que certamente permitirão dar tração a este setor, em linha com as expectativas do tecido económico nacional.